Bem voces este ano estão mesmo mortinhos por celebrar o Beltane! eu costumo ser a primeira a publicar estas coisas mas desta vez ultrapassaram-me
mais uma vez vos deixo o texto sobre o Beltane da publicação deste mês da revista "Ser Pagano" (quem quiser ler encontra-se aqui http://issuu.com/serpagano/docs/revista_serpagano_n_5) que eu traduzi para partilhar convosco! espero que gostem!
Em Roma, os últimos dias de Abril eram dedicados aos jogos em honra à deusa Flora, uma das mais antigas divindades; uma festa centrada na busca do prazer sexual e onde os convencionalismos sociais da classe eram abolidos durante os seis dias de festejo.
Na cultura celta também estava muito presente o caracter sexual da celebração. Durante a noite de Beltane, as obrigações matrimoniais eram temporariamente quebradas e podiam comportar-se como homens e mulheres solteiros. Havia o costume de se encontrarem nos bosques com os seus amantes, por vezes com vários na mesma noite. Eram conhecidos como “casamentos dos bosques”. Eram tão habituais os encontros sexuais daquela noite que muitas jovens não conseguiam assegurar a paternidade dos seus filhos, os quais eram conhecidos como merry-be – gots. Isto foi algo que escandalizou os cristãos puritanos durante a idade média, em que ainda se continuava a fazer estas celebrações, mais ou menos às escondidas, ainda que, em muitos casos, carentes do carácter religioso que tinham no passado.
Foi o que ocorreu nas regiões germanas e escandinavas, onde os antigos festejos foram rebatizados como Walpurgisnacht, em honra a santa Walpurga, canonizada a 1 de Maio de 870 d.C. Com o tempo, esta cristianização não só abandonou as práticas sexuais que honravam a fertilidade, como também se chegou a eleger esta data – ou a sua véspera, 30 de Abril – para se executar os hereges, heterodoxos e, sobretudo, as bruxas. Desta crueldade ficou o costume de queimar bruxas de palha ou trapos nas fogueiras na noite de 30 de Abril para 1 de Maio na República Checa.
Em muitas zonas celtas, como por exemplo na Irlanda, antes da chegada do cristianismo, a aproveitava-se a noite de Beltane para celebrar casamentos “temporais”, uniões conjugais que se deviam ratificar todos os anos, ou que em caso de se dissolverem não causariam nenhuma obrigação entre os contraentes. Também em muitos casamentos se aproveitava a ocasião para arranjar uma segunda ou terceira esposa.
A poligamia era habitual na cultura celta, mas tinhas as suas restrições. A primeira esposa devia aceitar o segundo e sucessivos matrimónios do marido. Ela nunca perdia os seus direitos e estava num escalão acima das esposas seguintes, governando a casa. Há que entender que a sexualidade não tinha os tabus que o cristianismo introduziu, nem a infertilidade era mal vista, nem pelo marido nem pela mulher, pelo contrário.
Estes segundos casamentos eram um negócio jurídico que incorporava novos membros na família para ajudar na casa e na economia doméstica, além de aumentar a prole; por isso era tão necessário haver acordo no matrimónio e não só devido ao desejo do marido.
O Beltane era para os celtas, germanos, nórdicos e escandinavos a festividade mais importante do ano, assim como o Samhain. São dois momentos opostos no calendário e a mesma natureza das celebrações. Em Beltane festeja-se a vida, a fertilidade e a luz; em Samhain a morte e a escuridão. A nível simbólico, são caras da mesma moeda, não podem existir uma sem a outra, são ideias chave para compreender a espiritualidade deste povo. Talvez por isso o cristianismo se esforçou tanto em desprezá-las e destruí-las. No entanto, estavam de tal modo enraizadas no povo que o único resultado foi condicionar a celebração, sobretudo no plano sexual.
Nos países mediterrâneos, as antigas celebrações à deusa Flora passaram a ser romarias e Cruzes de Maio, e em especial a eleição das Rainhas da Primavera, ou as “maias”.
Nas regiões mais frias da europa, a festividade continuou ligada ao fogo, a fogueiras que juntavam amigos e famílias para desfrutar de bebida e comida. Com frequência, também se saltam essas fogueiras para se purificar e se queimar “coisas velhas” para celebrar a chegada da nova vida e o novo ano. Há que recordar que até ao final do seculo XVI, o ano novo se celebrava na primavera, oficialmente a 25 de Março, data da Anunciação, mas na prática, era na celebração de Beltane, nas fogueiras de Maio, que o povo dava as boas vindas ao ano novo.
Nas Highlands da Escócia, que antigamente se celebrava entre 11 e 15 de Maio, os jovens juntavam-se em sítios ermos, onde acendiam fogueiras e se coziam tortas de aveia, as quais eram cortadas em pequenos pedaços e marcavam um deles com o carvão da fogueira. Os rapazes sorteavam então os pedaços e aquele que ficasse com o pedaço marcado era obrigado a saltar três vezes a fogueira.
Outra tradição que chegou aos dias de hoje é a do Maypole. É um falo gigante adornado com fitas de cores ao redor do qual se dança, frequentemente de maneira sensual e até obscena. Era erigido na manhã a seguir à noite de Beltane, após os encontros sexuais, e era uma forma de se despedir dos amantes, no entanto, normalmente a despedida acabava sendo uma repetição da noite anterior.
Com o revivalismo do paganismo a celebração recuperou muita da sua espiritualidade perdida. Hoje em dia é uma data remarcada nos calendários de todos os pagãos do mundo.
Muito conhecidas e populares são as cerimónias organizadas em Glastonbury, onde se dá muita importância à figura do Greenman. Ao amanhecer do primeiro de Maio, centenas de pessoas recebem o sol da aurora entre tambores de chamada e gritos de júbilo no Tor. No entanto, o mais espetacular de todos os festejos de Beltane seja o que se celebra em Calton Hill, em Edimburgo, um espetáculo de luz, fogo e musica que junta cada ano mais de quinze mil pessoas.
Na Wicca, é o momento de celebrar o Grande Ritual, a união do Deus e da Deusa, o Hieros Gamos, uma das cerimónias mias sublimes e importantes herdadas dos antepassados. Porém, em muitas tradições foi suprimido ou amenizado, com objetivo de encaixar as práticas Wicca com a ética e a moral sexual vigente, em grande medida construída artificialmente pelo cristianismo dominante.
Também em muitas tradições onde se mantém a celebração do Grande Ritual adquire um carácter simbólico. Não se chega a manter nenhum tipo de relação sexual, só se simula ritualmente. Sem duvida que é um primeiro passo importante, ainda que o objetivo final destas celebrações à fertilidade, tanto na Wicca como em outras correntes pagãs, é recuperar a inocência e a alegria do passado, regenerar a humanidade regenerando a visão da sexualidade porque ao mudar as diretrizes sexuais, mudamos também as atitudes e a maneira de entender o mundo.
As tradições pagãs teriam um conceito limpo do sexo. Não se considerava promíscuo nem sujo, não era algo de que nos devíamos envergonhar. Os encontros extramatrimoniais eram frequentes e tolerado, em especial durante Beltane, quando se costumavam ter encontros com vários amantes, normalmente em grupo.
A importância que muitos autores Wicca puseram está na própria natureza do ser humano, que nunca experimentará uma verdadeira revolução até que aceite uma vida sexual natural e saudável, carente de ideias possessivas e em que o prazer não desperte nenhum tipo de remorso ou sentimento de culpa. Mas obviamente que devemos estar conscientes dos tabus ainda vigentes e evitar forçar os tempos, porque uma coisa é dizer e outra muito diferente é fazer. Para a maioria, por mais que nos oponhamos racionalmente a estes tabus, estes ainda dominam muitos dos nossos comportamentos.
Talvez só necessitamos de compreender, em palavras de Z. Budapest, que “quando o sexo e o prazer se realizam unicamente em sua honra, vencem-se as inibições sexuais em qualquer altura. Os comportamentos sexuais patriarcais estão em absoluta contradição com o prazer sexual na religião. Todos os tabus da religião judaico-cristã nasceram contra os valores da antiga religião”.
Alguns dos costumes mais populares desta data são, além das fogueiras e do Maypole, os homens vestir-se de verde e as mulheres de vermelho, ter grinaldas de flores para enfeitar os cabelos, colher frutas das árvores, saltar por cima das flores do jardim se não se puder saltar as fogueiras, beber e lavar-se com água de uma fonte ou de um rio (o importante é que a água esteja em movimento e não estanque), apanhar os primeiros raios de sol do dia 1 de Maio ou dançar à volta de uma árvore que quanto maior for melhor.
Etimologia
Beltane tem sido traduzido, tradicionalmente, como “os fogos de Bell ou Belenus”, deus celta do sol que os romanos identificam como Apolo. Porém, o significado é mais complexo, pois as raízes celtas têm muitos significados: o verbo belo-thaich significa reavivar; o adjetivo baelos significa brilhante (que é o significado que habitualmente se dá ao nome de Belenus ou Beleno, o brilhante ou o que brilha); o nome beólach significa cinzas quentes; beloluathach significa cinzas brilhantes; e bael é uma raiz proto celta que em lituano implica branco ou claro. Além disso, a celebração tinha vários nomes já quase em desuso. Em Gales, por exemplo, chamava-se Calan Mai, que significaria primeiro dia de verão.
Espero que todos tenham um óptimo Beltane e que o celebrem da maneira que mais gostarem!